Em ano eleitoral, partido de Casagrande dobra número de prefeitos no ES

Em ano eleitoral, partido de Casagrande dobra número de prefeitos no ES
Em ano eleitoral, partido de Casagrande dobra número de prefeitos no ES

Se em 2016 o PSB viu seu espaço reduzido nas prefeituras capixabas, elegendo apenas seis lideranças, em 2020 o partido do governador Renato Casagrande domina os Executivos municipais. A legenda socialista dobrou o número de filiações e possui, atualmente, 12 prefeitos com mandato. O crescimento também é observado em partidos aliados, como o Cidadania, que passou de duas para nove filiações.

Em contrapartida, legendas que sustentaram o governo anterior, como o PSDB e o MDB – pela qual o ex-governador Paulo Hartung foi eleito – encolheram, perdendo filiados para a base do governo atual. Essa movimentação de partidos, que caminha sobretudo para um alinhamento com a liderança estadual, é significativa, e muito utilizada por lideranças para obter apoio em anos eleitorais.

Para a reportagem, foram usados dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Gazeta analisou os partidos pelos quais os prefeitos dos 78 municípios foram eleitos em 2016 e quais as atuais filiações deles ou de seus eventuais substitutos – nem todos seguiram nos mandatos. Foram consideradas as mudanças das lideranças municipais, seja por meio de perda de mandato ou morte do candidato eleito. Veja a tabela no fim deste texto os nomes dos prefeitos e as movimentações partidárias.

PSB LIDERA FILIAÇÕES
O PSB é, atualmente, o partido que possui o maior número de lideranças nas prefeituras do Estado. São 13 prefeitos filiados, 12 deles em exercício (em Conceição da Barra, o mandato de Francisco Vervloet foi cassado e o município aguarda por eleições suplementares). É também um dos partidos que mais cresceu em relação a 2016, atraindo nove filiados de Norte a Sul do Espírito Santo.

A migração veio, principalmente, de partidos que eram fortes no governo anterior e perderam espaço na gestão estadual de Casagrande. Em cinco cidades, prefeitos filiados ao MDB trocaram a legenda pelo PSB. Essa mudança foi registrada nas cidades de Anchieta, Divino de São Lourenço, Ibitirama, Itaguaçu e Santa Maria de Jetibá. O partido do governador também tirou as lideranças do DEM, PP, Patriotas e PSDB nas prefeituras de Água Doce do Norte, Marechal Floriano, Santa Leopoldina e Conceição da Barra.

O PSB permaneceu sendo o partido de quatro dos seis prefeitos eleitos em 2016, nas cidades de Alfredo Chaves, Cachoeiro de Itapemirim, Nova Venécia e Rio Bananal. A legenda só perdeu lideranças em Atílio Vivácqua e Muqui, onde houve troca de prefeitos durante o mandato.

“Fizemos um trabalho integrado no Estado todo, mostramos que o PSB tem proposta e conseguimos expandir para outras prefeituras. Estamos bem distribuídos, com o crescimento também dos nossos partidos parceiros, como Cidadania, Podemos, PDT. Isso para nós é muito importante para fazer uma política mais coesa e trabalhar de forma integrada nos municípios”, destaca o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini.

Dos partidos parceiros citados por Gavini, todos eles também aumentaram o número de filiações. O Podemos, que não elegeu nenhum prefeito em 2016, hoje tem três lideranças filiadas. Já o PDT saltou de seis para oito filiações.

CIDADANIA
O Cidadania, partido de Luciano Rezende, em Vitória, e de Juninho, em Cariacica, foi além da Grande Vitória em 2020 e ganhou filiados em mais sete prefeituras: Dores do Rio Preto, Governador Lindenberg, Pinheiros, São Gabriel da Palha, Venda Nova do Imigrante, Vila Valério e Conceição do Castelo. A legenda, que herdou prefeitos dos mais diversos partidos (PDT, PSDB, MDB, Solidariedade, DEM, PTN e Republicanos), soma hoje nove lideranças em exercício no Estado.

“Isso é fruto de uma segurança que o Cidadania cria. As pessoas migram de partidos não só por ideologias, mas também por relações partidárias. Temos uma relação muito boa com o governo do Estado e também com o governo federal e isso atrai. Estaremos com uma grande representação nas eleições”, destaca o deputado federal Josias Da Vitória, da Executiva estadual do partido.

QUEDA DO MDB
Pilares do governo anterior, MDB e PSDB viram o número de lideranças diminuir nas prefeituras este ano. Nas últimas eleições, os partidos elegeram mais da metade de prefeitos no Estado (foram 40 em 78 municípios). Em 2020, contudo, eles somam 14 filiações.

O MDB chegou a liderar, sozinho, 17 prefeituras do Estado em 2016. Com Paulo Hartung fora do cenário político e também do partido, a legenda enfraqueceu e perdeu mais da metade dos prefeitos filiados (10 no total). Destes, cinco foram atraídos para o PSB, legenda que agora detém o poder estadual, dois para o Republicanos, um para o Cidadania, um para o DEM um para o PSDB, que teve troca de prefeito em Castelo, por meio de eleições suplementares.

Para o ex-presidente do MDB no Estado, Lelo Coimbra, as migrações já eram esperadas e se deram, sobretudo, por pressão e assédio do poder estadual. “Tivemos um movimento do governo em relação a esta questão, de orientar e solicitar a migração destes prefeitos para o PSB ou partidos parceiros, e muitos atenderam. São perdas que devem ser consideradas como perdas de fato, mas compreensíveis e previsíveis, dentro do cenário do poder atrativo do governo estadual e pela pressão para que fosse feita essa migração”, declarou.

Presidente do PSDB no Espírito Santo, o deputado estadual Vandinho Leite foi procurado, mas não respondeu até a publicação da reportagem.

Apesar de perder espaço no cenário estadual, prefeitos de sete cidades se mantiveram no MDB: Afonso Cláudio, Alto Rio Novo, Laranja da Terra, Linhares, Mantenópolis, Mimoso do Sul e São Roque do Canaã. O partido ainda conseguiu ganhar uma nova prefeitura, após eleições suplementares em Irupi. O atual prefeito, Edmilson de Oliveira, está filiado ao MDB.

ASCENSÃO DO REPUBLICANOS
As movimentações políticas também deram espaço para um outro partido crescer em 2020, principalmente no interior do Espírito Santo. O Republicanos, que tem como seus maiores representantes o deputado federal Amaro Neto e o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso, saltou de uma para sete filiações nas prefeituras.

A migração de prefeitos para o Republicanos se deve, sobretudo, ao enfraquecimento do poder do PSDB e MDB e à habilidade de transitar bem entre os partidos que costumam deter a máquina do Estado.

“Os republicanos estão ocupando espaço dos partidos que estão caindo, como o PSDB e MDB, e oferecendo aos filiados uma posição favorável nesse cenário político. Eles transitam bem entre o PSB de Casagrande e o MDB, que era do Hartung, e têm tido uma enorme habilidade de crescer dentro dos quadros ligados a essas duas lideranças”, analisa o cientista político João Gualberto Vasconcellos.

MIGRAÇÕES SÃO COMUNS E NÃO SEGUEM IDEOLOGIAS
Essa flutuacão de prefeitos entre partidos que detêm o poder estadual é um fenômeno comum, segundo especialistas. “Quem faz parte do partido que está no poder se beneficia mais das relações com o governo. No Estado, a maioria dos políticos já transitou por vários partidos, é raro quem fica apenas num partido, principalmente neste quadro mais de centro. Esse alinhamento com a liderança regional é prática do sistema político brasileiro”, comenta Vasconcellos.

Esse alinhamento citado pelo cientista político foi observado em 2016 e se repete em 2020. Nas últimas eleições, era o MDB, partido de Paulo Hartung, na época governador, que detinha o maior número de lideranças nas prefeituras do Estado, com 17 filiados. Neste ano, o pólo de atração é o PSB, partido do atual governador.

“No cenário atual capixaba, vemos dois partidos com vento a favor, o PSB e o Cidadania, organizados com lideranças bem definidas e com o poder estadual, e do outro lado dois partidos em frangalhos, que são o MDB e o PSDB, que, além de terem perdido espaço, viram recentemente disputas dentro do partido que espantaram lideranças”
Apesar de prática comum na política, essa migração constante de prefeitos entre os partidos é vista como um “jogo de interesses” pelo cientista político Fernando Pignaton. De acordo com ele, na falta de um eixo político programado no Estado para atrair prefeitos, os partidos são atraídos por quem detém a máquina do Estado.

“Os partidos perderam a ideologia há muito tempo. A gente não assiste no Estado um planejamento de longo prazo, nós assistimos a uma politicagem, alianças firmadas por interesse corporativo. Estas mudanças nos partidos são presididas por uma nova ideologia chamada de empreendedorismo político, que gira em torno do interesse dos prefeitos, que querem ter cada vez mais verba nos gabinetes, mais funcionários. É uma colcha de retalhos sem ideologia”, critica.

Fonte: agazeta.com.br