Maços de dinheiro encontrados em malas em apartamento em Salvador pela Polícia Federal que era usado por Geddel Vieira Lima (Crédito: Divulgação)

Polícia Federal apreende mais de 100 milhões em ‘Bunker’ de Paulo Preto

Polícia Federal apreende mais de 100 milhões em ‘Bunker’ de Paulo Preto.
Polícia Federal apreende mais de 100 milhões em ‘Bunker’ de Paulo Preto.

Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, apontado pela Operação Lava Jato como operador financeiro do PSDB, guardava em dois apartamentos o dobro do dinheiro que foi encontrado em 2017 num imóvel do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Segundo as investigações da 60ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta terça-feira (19), Paulo Preto tinha R$ 100 milhões em espécie no Brasil.

“Se formos levar em consideração o volume de dinheiro no apartamento de Paulo Preto, talvez tenha o dobro do tamanho de Geddel”, disse Pozzobon.

Maços de dinheiro encontrados em malas em apartamento em Salvador pela Polícia Federal que era usado por Geddel Vieira Lima (Crédito: Divulgação)
Maços de dinheiro encontrados em malas em apartamento em Salvador pela Polícia Federal que era usado por Geddel Vieira Lima (Crédito: Divulgação)

Em 2017, o ‘bunker’ encontrado pela Polícia Federal em Salvador, num apartamento que era usado por Geddel, continha R$ 51 milhões.

O procurador contou, ainda, que o volume de dinheiro guardado em um dos apartamento era tão grande que era necessário colocar as notas no sol para que elas não embolorassem. “Chocante”, classificou Pozzobon o esquema de lavagem de dinheiro e de corrupção.

Paulo Preto foi preso nesta terça-feira pela Operação Ad Infinitum. A ação cumpriu também doze mandados de busca e apreensão em endereços ligados a ele e ao ex-ministro Aloysio Nunes (PSDB).

O operador tucano seria levado ainda hoje para Curitiba, onde ficaria preso. No entanto, ele tinha uma audiência na Justiça Federal de São Paulo, referente a outro processo a que responde, e por isso permaneceu na capital paulista.

O esquema

A força-tarefa da Operação Lava Jato explicou, em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira, que em 2010 a construtora Odebrecht tinha uma demanda muito grande de propinas por parte dos candidatos que concorreriam às eleições. Com o objetivo de ampliar sua rede de operadores financeiros, a construtora inseriu Adir Assad no esquema.

Ele, no entanto, não tinha o volume de dinheiro necessário para atuar sozinho. Por conta disso, convidou Paulo Preto, que tinha R$ 100 milhões em espécie no Brasil.

O esquema atendia também aos interesses de Paulo Preto, que queria proteger os seus bens no exterior. Isso porque a operação da Odebrecht era casada: o operador dava o dinheiro à construtora, que pagava os agentes públicos e políticos. Em contrapartida, a empresa pagava pelos serviços dos operadores por meio de contas no exterior.

“Esse esquema serviu a todos, cada um a sua maneira: juntou a sede que a Odebrecht tinha de pagar propina, à vontade de Paulo Preto de mandar seus recursos para o exterior”, disse Pozzobon.

De acordo com ele, o esquema remonta à Lava Jato investigada em Curitiba, uma vez que a Odebrecht realizou pagamentos de propina em espécie para diversos dirigentes da Petrobras, como Paulo Roberto Costa, Sergio Machado e Delcídio do Amaral. “A Odebrecht levantou que, entre 2010 e 2012, foram feitos pagamentos para agentes em R$ 45 milhões em espécie.”

Complexidade do Esquema

“Outro aspecto interessante diz respeito ao fato da complexidade do esquema e a necesidade de buscar auxílio com quatro diferentes nações”, disse o procurador. “Houve cooperação com Suíça, Bahamas, Singapura e Espanha, para que obtivéssemos extratos da conta”, continuou ele.

Essas operações, segundo Pozzobon, tinham um rúbrica própria: eram chamadas de “esfiha” e “quibe” por causa da naturalidade dos irmãos Adir e Samir Assad. Era por meio dessa assinatura que a empresa sabia quem precisava ser pago por meio de contas no exterior.

Ligação com Aloysio Nunes

As investigações descobriram que em 2007, por intermédio da offshore Klienfeld Services Ltd, a Odebrecht transferiu 275.776,04 de euros para a conta controlada por Paulo Preto, em nome da offshore Grupo Nantes, na Suíça. No mês seguinte, foi solicitada a emissão de cartão de crédito, vinculado à sua conta, para o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira Filho.

O banco foi orientado a efetuar a entrega do cartão de crédito no Hotel Majestic Barcelona, na Espanha, para Aloysio Nunes Ferreira Filho, que estaria hospedado no hotel entre 24 de dezembro de 2007 e 29 de dezembro do mesmo ano.

Em razão disso, a Polícia Federal pediu autorização para cumprir mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao ex-chanceler. “Não poderíamos simplesmente intimá-lo a fornecer porque, se houvesse intenção de ocultar esses documentos, perderíamos todas essas provas”, argumentou o procurador Pozzobon.

A Ad Infinitum foi deflagrada nas cidades paulista de São Paulo, São José do Rio Preto, Guarujá e Ubatuba.