Ao longo de seu mandato, Jair Bolsonaro adotou um tom permanentemente beligerante em suas manifestações públicas. Com isso, imprimiu o ritmo de sua estratégia política de conflito permanente com os demais poderes e instituições. Não mudou nem mesmo após a ampla aliança que fez com o Centrão, que hoje lhe dá sustentação no Congresso Nacional. Em certa medida, até radicalizou, uma vez que se sentiu suficientemente blindado para dizer e fazer aberrações e ilegalidades das mais variadas, inclusive atacar o sistema de votação em uma reunião com embaixadores e coaptar as comemorações do bicentenário da independência para propósitos eleitoreiros.
Era de se supor que, após o último 7 de setembro, em que reuniu vastas multidões de apoiadores em cidades importantes do país, a postura de Bolsonaro fosse cheia de certezas sobre a vitória. Afinal, desde os atos, sua campanha, militância e formadores de opinião têm difundido que a presença do público na ocasião seria a prova definitiva de que os institutos de pesquisa estão errados sobre as projeções que publicam. O presidente, entretanto, parece ter outra percepção, pelo menos numa entrevista recente.
Suficientemente experiente na política, Bolsonaro sabe que pode vencer, mas também sabe que Lula também pode, ao contrário do que pensam seus apoiadores mais deslumbrados.
Na última segunda-feira (12), o candidato à reeleição deixou de comparecer na posse de Rosa Weber como presidente do Supremo Tribunal Federal para participar de um podcast cristão. Falou sobre a eventualidade de perder a disputa presidencial: “se for a vontade de Deus, eu continuo. Se não, a gente passa a faixa e vou me recolher, porque com a minha idade, eu não tenho mais nada para fazer aqui na Terra, se acabar a minha passagem pela política no corrente ano”, disse.
Sua postura, ao contrário de outras oportunidades, foi surpreendentemente lacônica. Quase que como se estivesse conformado com tal possibilidade. Também foi a primeira vez que admitiu “passar a faixa”. O que levou um presidente tão cheio de certezas a se colocar de público de maneira tão abatida?
Se confirmados os números estáveis das semanas que se seguiram ao debate da Band, da série de entrevistas do Jornal Nacional e, principalmente, do início dos efeitos da PEC Kamikaze, então significa que os esforços do governo em diminuir a rejeição e ampliar o número de eleitores foram em vão. E que se ressalte: além do inegável sucesso das manifestações bolsonaristas, haveria, potencialmente, outros fatores para a melhora na posição do atual presidente. Os dados econômicos gerais, como inflação, PIB e geração de empregos vem sendo revisados positivamente.
Mesmo com essas condições ele costeou o alambrado do pessimismo, apesar de, depois da participação no podcast, ter voltado a falar em ganhar no 1° turno. Como escreveu o colega colunista Alexandre Borges “ninguém acredita mais em pesquisa que ele”, tanto que todas as suas ações têm origem nos resultados que elas mostram. Suficientemente experiente na política, Bolsonaro sabe que pode vencer, mas também sabe que Lula também pode, ao contrário do que pensam seus apoiadores mais deslumbrados que só cogitam derrota em caso de uma despropositada hipótese de fraude nas eleições.
Bolsonaro sabe muito bem que pode perder a eleição
Confira o conteúdo completo em Gazeta do Povo. Todos os Direitos Reservados.