Na democracia tudo é possível. E se Bolsonaro perder? – Gazeta Bolsonaro

Na democracia, é
possível vencer e perder. Apesar de doída, tantas vezes dilacerante e outras
trágicas, a derrota é uma variável do jogo do poder. Sim, podemos e devemos
lutar pela vitória, colocar nossas melhores energias e ações em favor do êxito,
mas ignorar a possibilidade do insucesso é como fechar os olhos e pensar que os
problemas, por mágica, irão desaparecer. Não vão. Estão aí à evidência de
todos. E também não serão resolvidos – frisa-se – por decretos imperiais de
última hora.

Sem cortinas, os desarranjos institucionais brasileiros são graves e sangram em praça pública. A política está doente; a enfermidade é sistêmica. Nossos partidos são incapazes de ditar novos rumos. A prova é categórica. Vejam o caso decadente do esquerdismo brasileiro: teve que buscar Lula como candidato porque não havia outra opção competitiva. Em tempo, já escrevi que a candidatura de Lula não gozaria de aprovação constitucional, por potencial violação ao princípio da moralidade pública (art. 37, caput, CF/88). Ou será que, aqui, não haverá um Supremo Tribunal para proteger a dignidade da Constituição? Entre silêncios, a legalidade definha e a impunidade triunfa.

Como não temos partidos autênticos, o que sobra são expoentes singulares que, por talentos distintos, sobem ao altar da política, se transformando em imagens referenciais.

No cemitério da
virtude, para diminuir a resistência de certos setores empresariais, a chapa
esquerdista foi buscar Geraldo Alckmin – ácido crítico do petismo no passado –
como um sinal de suposta boa vontade com o mercado. Trata-se de uma espécie de hedge político; se o preço do risco
disparar, há uma trava de segurança. Acontece que a experiência bem revela que
não existe nada mais ameaçador a um presidente do que um vice capaz e com
vontade de chegar ao poder. Tal ameaça fica ainda mais eloquente quando a
aliança é de ocasião ou um mero arranjo forçado de circunstâncias. Não é de
duvidar, inclusive, que a petição do impeachment já esteja assinada, aguardando
apenas o estopim da crise.

Do outro lado,
temos uma parte da direita que mistura tintas de liberalismo, religião, certo
intervencionismo estatista (a Petrobras, que o diga), palavras de ordem e um
patriotismo renascentista naquilo que veio a se chamar de “bolsonarismo”. Assim
como Lula é maior que o PT, Jair Bolsonaro é maior que o PL de Valdemar da
Costa Neto. Quem lembrar do “mensalão”, aliás, já deve ter ouvido alguns dos
personagens.

Na continuidade do enredo, elevando o olhar e mirando o futuro, a tradição personalista se manterá na política brasileira. Isso porque, como não temos partidos autênticos, o que sobra são expoentes singulares que, por talentos distintos, sobem ao altar da política, se transformando em imagens referenciais. Ou seja, Getúlio e Brizola fizeram escola no Brasil.

Para decepção de
muitos é importante assinalar que mesmo que Bolsonaro seja derrotado, o bolsonarismo
não irá acabar. Talvez até se inflame mais. O fato é que as eleições de 2022 se
encaminham para um encontro frontal entre Lula e Bolsonaro, sem espaço para
rotas alternativas ou moderadas. O choque parece ser inevitável; duas carretas
em sentido contrário. Na política, esse tipo de jogo jamais encontra soma zero,
pois um dos lados sai vencedor.

A questão será o day after e de como o país estará após
uma colisão tão radical. Naturalmente, haverá vida e possibilidades no amanhã,
mas também um enorme contingente de eleitores insatisfeitos e inconformados com
o resultado das urnas.

De tudo, não é
preciso ser um profeta para saber que – independentemente do vencedor – o
Brasil sairá conflagrado das eleições de outubro. Para onde vamos, eu não sei.
Todavia, o simples exercício de olhar a realidade posta faz levantar angústias
e preocupações. E escrever é uma forma de aliviá-las para, quem sabe, serem
resolvidas por personalidades mais eminentes. Então, escrevo e digo que Jair
Bolsonaro pode, à luz da democracia, perder a eleição.

Agora, será que
ele pode ganhar?

Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. é advogado e conselheiro do Instituto Millenium.

Na democracia tudo é possível. E se Bolsonaro perder?

Confira o conteúdo completo em Gazeta do Povo. Todos os Direitos Reservados.

Sair da versão mobile